sábado, 26 de novembro de 2011

Tijolo sobre tijolo




Continue sentado, vou te contar uma história.
Ela é a filha mais velha, tem um casal de irmãos. Sua mãe trabalhava no Tapete São Carlos e seu pai era motorista de ônibus. Eram pobres. Não que passavam fome, mas ela tinha apenas um par tênis, o qual usava para sair e para ir à escola. Além disso, cuidava dos irmãos mais novos e limpava a casa enquanto os pais trabalhavam. Moravam numa casinha no fundo da casa da sua avó paterna, uma casa de três cômodos. Dormia na sala. Quando chegaram seus quinze, dezesseis anos descobriu as baladas, e era lá, com as amigas que ela encontrava um refúgio, eram as noitadas que faziam ela esquecer todos os seus problemas familiares.
Há quem diga que esses tais amigos de balada não são amigos de verdade, mas foi uma amiga de balada que a acolheu em casa quando seu pai a botou pra fora. Mas antes de sair de casa pela primeira vez, presenciou muita coisa. Brigas, em especial. Seu pai batia na sua mãe e talvez seja por isso que hoje sua mãe tenha tantos problemas psicológicos, de tanto apanhar.
Com dezenove anos engravidou. O cara era casado e ela não sabia. Foi um rolo enorme, porém superado. Voltou para casa dos pais e teve sua filha ali. Saiu de casa de novo, mas deixou a filha. Não que a tenha abandonado, isso jamais, mas sabia que não seria capaz de cuidar dela sozinha.
Sua filha cresceu, ela também. Quando sua filha tinha cinco anos de idade, ela começou a namorar um homem. De início sua filha não aceitava, talvez pelo medo de perder a mãe pra outro alguém, mas acabou acostumando-se com a idéia. Quando sua filha completou oito anos decidiu morar com a mãe. E, acredite, pode ser que essa não tenha sido a melhor decisão tomada, mas era o que essa criança mais desejava, sua mãe.
Foram tempos difíceis. Não que ambas não tenham tido momentos incríveis juntas, mas você que está lendo isso agora já deve saber que o que mais marca na vida das pessoas são momentos ruins.
Vou abrir o jogo, ela apanhou do “marido” várias vezes e uma dessas sua filha presenciou. Foi a pior briga. Ele queria matá-la, mas sua filha lutou, fez de tudo e conseguiu que não o fizesse. Ele as trancou dentro do quarto, fechou a casa e saiu. Era de manhãzinha, ele estava bêbado e drogado. Lembra daquela amiga que a acolheu quando o pai a botou pra fora de casa? Então, essa amiga morava no apartamento ao lado e ouviu os gritos da sua amiga e da criança. Ela conseguiu abrir a porta e tirá-las de lá.
Você deve estar pensando que esse cara, “marido” dela, é a pior pessoa do mundo, mas eu vou te dizer uma coisa, ele é uma pessoa incrível. Tem um coração muito bom. Tem seus defeitos, óbvio, mas é uma das melhores pessoas que se pode ter ao lado.
“Ta bom Nathalye, mas e aí? Como essa mulher está hoje?”
Hoje? Ela venceu !
Teve duas filhas, gêmeas, com esse cara que talvez você julgue a pior pessoa pra ela. Fez um curso de cabeleireira e abriu o próprio salão. Sua vida não mudou da água pro vinho, ela ainda luta. Todos os dias.
Mora sozinha com as duas meninas de quatro anos, sua primeira filha foi morar com o pai. Ela batalha de semana, sábado, domingo e feriados. Ou você acha que é fácil ter trinta e cinco anos, morar sozinha, trabalhar e cuidar de duas crianças? Mas ela conseguiu. Construiu sua vida, tijolo sobre tijolo. Um de cada vez. Ela é linda. Não só por fora, mas por dentro também. O nome dela é Alexandra. Ta aí, eu te apresento a minha mãe.

PS: quis dedicar o meu primeiro post a minha mãe, a quem eu devo tudo o que sou hoje!

Um comentário:

  1. Nossa, conforme lia o texto, me encantava cada vez mais pela sua mãe. Tiro o chapéu para ela, uma lutadora!

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